A história da Sadia é uma das mais fascinantes do Brasil. O visionário Attilio Fontana transformou uma pequena empresa familiar em um poderio global de vitualhas. Inovações uma vez que o transporte leviano de produtos impulsionaram o desenvolvimento inicial. A exportação pioneira de carnes para o Oriente Médio consolidou sua liderança.
Mas, por trás do sucesso, havia disputas familiares intensas. Decisões financeiras arriscadas também colocavam o legado em risco. A crise financeira global de 2008 revelou um rombo bilionário na empresa. Isso forçou a Sadia a buscar salvação justamente em sua maior rival, a Perdigão.
O visionário Attilio Fontana: do campo ao sonho industrial
Attilio Fontana nasceu em 1900, em Santa Maria (RS). Era rebento de imigrantes italianos e cresceu trabalhando na pequena quinta da família. Desde cedo, mostrou talento para negócios, vendendo biscoitos com sucesso em quermesses. Aprendeu que um lucro de 20% era razoável. Inicialmente, trabalhou uma vez que cultor, plantando e vendendo alfafa com seu irmão Domingos. Posteriormente a morte do pai e do irmão, Attilio buscou novos rumos.
Mudou-se para o oeste de Santa Catarina, uma região portanto turbulenta, mas onde viu oportunidades. Percebeu o potencial das terras férteis e da chegada do trem para o transacção. Começou trabalhando para um negociante lugar, tornou-se sócio e prosperou no negócio de alfafa. Paralelamente, começou a comprar e vender porcos, o que mudaria sua vida. Em 1927, formou uma sociedade verbal de 18 anos com os irmãos Mank, expandindo o negócio de suínos. Em 1939, decidiu que queria ser banqueiro ou industrial, buscando novos horizontes.
Nasce a Sadia: a oportunidade em Concórdia e a superação dos desafios

Em 1942, a invitação do prefeito de Concórdia (SC), Attilio Fontana visitou um frigorífico e um moinho locais que enfrentavam dificuldades. Vendo potencial, destacou seu rebento Walter Fontana para reorganizar o moinho com sucesso. Em 1943, Attilio comprou a maior segmento das cotas do moinho e também adquiriu o frigorífico. Ele rebatizou o frigorífico uma vez que Sociedade Anônima Indústria e Negócio Concordia.
Durante a Segunda Guerra, conseguiu comprar equipamentos para o moinho da Suíça, aumentando a produção. O frigorífico enfrentou mais dificuldades para obter máquinas, mas Attilio comprou equipamentos de um refrigerador falido em Guaporé (RS). As máquinas entraram em operação em novembro de 1944.
Problemas uma vez que a falta de posse da propriedade geraram perdas iniciais de produtos. Mesmo assim, em seis meses, o frigorífico abatia 200 porcos por dia. Attilio portanto criou o nome da marca: combinou as iniciais SA Indústria e Negócio com a sílaba final de Concórdia, formando SADIA. No final dos anos 40, seu sobrinho Victor Fontana, engenheiro químico, trouxe melhorias cruciais de higiene e conservação.
A Sadia também investiu em um sistema de parcerias (“fomento”) para compartilhar conhecimento com seus fornecedores. Um experimento de Victor em 1949, que criou suínos de 114 kg em 8 meses (contra os 3 anos anteriores), revolucionou a suinocultura no Brasil ao ser divulgado na região.
Inovação e expansão vernáculo
No final dos anos 40 e início dos 50, a Sadia expandiu para outros estados, abrindo filial em São Paulo. O objetivo era ocupar os mercados paulista e carioca. O longo trajeto rodoviário desde Concórdia, porém, comprometia a validade dos produtos. Omar Fontana, rebento de Attilio, teve a teoria de alugar um avião para transportar as mercadorias em 1952. Embora parecesse uma extravagância, a logística aérea fazia sentido financeiro.
A demanda cresceu, e a Sadia comprou um avião e arrendou outros dois para obter subsídios no combustível. Attilio Fontana, que também era político (vereador, prefeito, deputado, senador, vice-governador), usou sua influência. Conseguiu a licença da Aviação para a empresa em 1955, criando a Sadia Transportes Aéreos. Em 1973, a companhia aérea se tornou a Transbrasil. O transporte leviano foi vital para o início da Sadia.
Em 1953, a Sadia inaugurou sede em São Paulo e comprou o Moinho da Lapa. Nos anos 60, acelerou o desenvolvimento, abrindo filiais e entrando no promissor negócio da avicultura. Mesmo sem experiência inicial, o frango se tornou um sucesso e marca registrada da empresa. Em 1964, inaugurou a Frigobras, entrando em vitualhas semiprontos e congelados. Foi criado um Parecer de Gestão com membros das famílias Fontana e Furlan.
A empresa iniciou um possante trabalho de marketing. Em 1967, já vendia em todo o Brasil, com depósitos e escritórios em diversas cidades. A Sadia também continuou comprando e construindo moinhos e frigoríficos pelo país. Em 1971, tornou-se uma companhia de capital franco. Lançou produtos icônicos uma vez que o frango defumado (com o mascote) em 1972 e o peru temperado em 1974, liderando o mercado. Em 1975, iniciou a pioneira exportação de frango enregelado para o Oriente Médio.
Conflitos familiares e gestão dividida
Apesar da expansão, as relações na cúpula da Sadia não eram boas. Havia tensão entre a novidade geração que administrava, uma vez que Victor Fontana e Osório Furlan (genro de Attilio). Relatos indicam que a relação era difícil, chegando a vias de indumentária. Attilio Fontana, embora focado na política, mantinha um perfil centralizador e a termo final nas decisões importantes.
Essa pendência entre os clãs Furlan e Fontana se estenderia por anos. Em 1983, Walter Fontana Fruto acusou Osório Furlan de irregularidades na compra de ações, resultando na saída de Osório. Mesmo com os ânimos acirrados, novos negócios surgiram, uma vez que a corretora Concórdia.
Em 1989, Attilio Fontana faleceu. Um congraçamento de acionistas foi feito para manter os herdeiros unidos, mas na prática gerou problemas. As ações só podiam ser vendidas entre descendentes, mas ninguém tinha condições individuais de comprar a segmento do outro. Isso manteve muitos herdeiros na empresa sem função clara, piorando o clima. A governo passou a ter visões divergentes: alguns defendiam profissionalização e expansão agressiva, outros queriam preservar valores tradicionais.
Em 1994, a terceira geração assumiu: Luiz Fernando Furlan no Parecer e Walter Fontana Fruto na presidência executiva. No entanto, os dois líderes raramente se comunicavam entre 1994 e 2003, gerando confusão e falta de coesão. Mesmo assim, o faturamento cresceu de R$ 3,3 bilhões (1993) para R$ 9,8 bilhões (14 anos depois). Nesse período, a concorrente Perdigão, comprada por fundos de pensão em 1994, começou sua recuperação e ganhou espaço no mercado.
Os conflitos familiares se agravaram. Em 2003, uma reunião com 40 jovens herdeiros revelou o distanciamento entre as famílias e o pouco conhecimento sobre a governo. Um Family Office foi criado para preparar a quarta geração, mas teve pouco efeito. No mesmo ano, Luiz Fernando Furlan saiu para ser ministro e indicou seu pai, Osório Furlan (retirado em 1983), de volta ao recomendação, gerando mais atrito.
Paralelamente, a Sadia apostou em operações financeiras sofisticadas e arriscadas, contrariando os preceitos de Attilio Fontana. Um oferecido alarmante: entre 2002 e 2007, as vendas da Perdigão cresceram 73% a mais que as da Sadia.
Em 2006, sob gestão de Walter Fontana Fruto, a Sadia tentou comprar a Perdigão por meio de uma oferta hostil, que fracassou e manchou a imagem da empresa, inclusive com um caso de vazamento de informação. As finanças da Sadia dependiam excessivamente de operações financeiras (43% do lucro, contra 10% da média do setor). A tesouraria realizou operações com derivativos que apostavam na queda do dólar.
Com a crise financeira global de 2008, o dólar disparou. Em setembro de 2008, perdas gigantescas com derivativos foram reveladas (estimadas em US$ 720 milhões). O caixa da empresa despencou. A crise expôs falhas graves na governança e gerou mais brigas internas sobre a responsabilidade pelas operações de risco. Em março de 2009, o balanço de 2008 mostrou um prejuízo de quase R$ 2,5 bilhões. Walter Fontana Fruto foi retirado.
Com a empresa falindo, Luiz Fernando Furlan assumiu a frente das negociações. A única saída viável era a fusão com a Perdigão. Posteriormente meses de negociação e com suporte do governo, a fusão foi sacramentada em 19 de maio de 2009. Surgiu a Brasil Foods (BRF), uma gigante do setor. No entanto, o congraçamento foi desfavorável para os controladores da Sadia.
Eles ficaram com exclusivamente 32% da novidade empresa (sendo 12% para as famílias Fontana e Furlan). A Perdigão ficou com 68%, e seu executivo, José Antônio Fay, assumiu a presidência da BRF. O clã Fontana e Furlan perdeu o controle da empresa que Attilio Fontana fundou.
O legado da marca Sadia e as lições da história
Para alguns membros da família, a fusão representou uma traição ao legado de Attilio Fontana. Para outros, era a única forma de preservar qualquer valor. O CNPJ da Sadia foi cancelado em 31 de dezembro de 2012, depois 68 anos de existência. Mas, a marca Sadia sobreviveu e continua sendo extremamente possante e valiosa no mercado brasiliano, gerida pela BRF.
A história da Sadia demonstra a necessidade de lastrar o legado familiar com os desafios corporativos modernos. A falta de uma governança estruturada e de mecanismos eficazes para resolver conflitos internos mostrou-se trágico para a empresa uma vez que entidade independente. Fica o estágio de uma grande história de pioneirismo brasiliano.