Apesar da queda acumulada de 17% no preço do petróleo, o repasse aos postos de combustíveis no Brasil ainda não é inesperado. Fatores porquê a cotação do dólar, impostos estaduais, políticas da Petrobras e margens de lucro de distribuidoras e revendedores influenciam diretamente na velocidade e no tamanho da redução para o consumidor
Desde o início do ano, os preços internacionais vêm registrando queda expressiva. O barril de petróleo do tipo Brent, referência global e utilizado pela Petrobras, já acumula baixa de 17%. A expectativa de novas quedas preocupa o mercado.
O banco americano Goldman Sachs projeta que os preços do Brent podem tombar para US$ 40 em 2026. Atualmente, o barril de petróleo é negociado em torno de US$ 64. Essa tendência de queda tem gerado mortificação entre investidores, empresas do setor e governos.
Impacto das tarifas dos EUA
Um dos principais fatores para esse cenário é a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O aumento das tarifas impacta diretamente várias cadeias de produção, porquê a indústria automotiva e farmacêutica, além de afetar exportações de países porquê o Brasil.
Para Ian Lopes, técnico da Valor Investimentos, as tarifas provocam uma previsão de recessão e desaceleração econômica global. “Com a escalada das tarifas, os mercados estão prevendo recessão e uma desaceleração da economia global. O consumo cai e isso força os preços do petróleo para inferior”, afirmou.
Estados Unidos e China representam juntos 40% do PIB mundial. Também são os dois maiores consumidores de petróleo do planeta.
Bruno Cordeiro Santos, comentador da Stone X, explica que um conflito mercantil entre esses dois países provoca queda nas expectativas de consumo pelas refinarias, derrubando os preços.
Barril de petróleo: Queda acelerada desde abril
As cotações do barril de petróleo são baseadas em uma previsão para 12 meses. O Brent começou o ano a US$ 75,93. Subiu para US$ 78,70 na posse de Trump, em 20 de janeiro. Mas despencou em seguida o proclamação das tarifas, em 2 de abril.
No dia seguinte, 3 de abril, o preço caiu para US$ 65,58. O valor mais inferior foi em 7 de abril, com US$ 62,82. Atualmente, está em US$ 64,67.
Postos ainda não repassaram a queda
Mesmo com essa baixa no mercado internacional, os postos no Brasil ainda não refletiram essa mudança. Isso porque, desde 2023, a Petrobras não segue mais somente a paridade com o mercado internacional.
A política atual também considera a produção vernáculo e a cotação do dólar. Por isso, os preços demoram mais para oscilar nas bombas. Hoje, a gasolina e o diesel estão entre 4% e 8% supra do valor internacional, segundo o Itaú BBA.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que uma queda nos preços está sendo discutida internamente. Ela recomendou cautela e disse que a empresa analisa o cenário antes de tomar qualquer decisão.
O último reajuste ocorreu em 1º de abril, somente para o diesel. A gasolina não tem aumento desde 8 de julho do ano pretérito, quando subiu R$ 0,20 por litro.
Mais queda no preço do barril de petróleo à vista?
Segundo o Goldman Sachs, se houver desaceleração global e reversão dos cortes de produção da Opep+, os preços do Brent podem tombar para US$ 40 em 2026, ou até inferior disso, em um cenário extremo.
A Opep+ vinha limitando a produção para manter os preços altos. Mas em abril, anunciou aumento de 411 milénio barris por dia a partir de maio. A medida surpreendeu o mercado.
Para Ilan Arbetman, comentador da Ativa Investimentos, o impacto foi direto. “Com a colocação das tarifas e a maior rapidez na recomposição da oferta por segmento da Opep, vimos os preços acelerando o momento negativo”, afirmou.
Previsão da Opep também recua
Nesta semana, a Opep reduziu em 10% sua previsão de propagação da demanda para 2025. A estimativa caiu de 1,45 milhão de barris diários para 1,3 milhão.
Segundo o relatório, “A economia global mostrou uma tendência de propagação uniforme no início do ano, mas a dinâmica recente do transacção introduziu maior incerteza para a perspectiva de propagação econômico global de limitado prazo”.
As ações de empresas petroleiras também refletem esse cenário negativo. A Brava (BRAV3), fusão da 3R Petroleum com a Enauta, lidera as perdas com queda de 26,74%.
A PetroReconcavo teve baixa de 16,72%. Já as ações da Petrobras recuaram 13,75% (PETR3) e 12,32% (PETR4). A PetroRio (PRIO3) caiu 15,77%.
Esses dados foram levantados pela Economatica, considerando o período entre 2 de janeiro e 14 de abril. O setor na totalidade sente os efeitos da queda do petróleo e das incertezas econômicas.
A previsão de queda do petróleo para US$ 40 até 2026, feita por um dos maiores bancos do mundo, sinaliza um período de fortes ajustes para a indústria de vontade. As próximas decisões da Opep+ e o desenrolar do conflito mercantil entre EUA e China serão determinantes para o rumo do mercado nos próximos meses.
Com informações de Economia.uol